"Assim diz o Senhor: Reprime a tua voz de choro, e as lágrimas de teus olhos, porque há galardão para o teu trabalho, diz o Senhor." Jeremias 31:16
Se você leu o artigo "A fé vem pelo ouvir", já descobriu que sonorização é importante, muito importante mesmo. Então, deveria ser algo bem valorizado nas igrejas. Entretanto, em algumas a prática é bem diferente.
Infelizmente, pessoas até mesmo da própria liderança da igreja, que estão entre os maiores beneficiados por um bom sistema de sonorização, ainda não reconhecem esse valor. O quesito "sonorização" ainda é relegado a um segundo plano, sem muita importância, é encarado como mais um gasto, como um "ralo de dinheiro". Em geral, quanto menor a igreja, também menos importante é a sonorização (evidente que há exceções, igrejas que valorizam a parte de sonorização). Pode parecer difícil de acreditar, mas em muitas igrejas é mais fácil conseguir dinheiro para uma reforma qualquer (algo visível) ou para a compra de novos instrumentos musicais do que para um novo amplificador, um microfone, uma nova mesa de som.
Essa situação acontece tanto por desconhecimento da finalidade da sonorização (salvar vidas para Jesus), como também pelo alto custo dos equipamentos. Um bom equipamento custa muito, muito dinheiro e assusta as lideranças da igreja. Mas se for bem cuidado, esse mesmo equipamento durará pelo menos uma década. Terá alto custo de aquisição, mas se diluirmos pelo tempo, não será tanto assim.
Outra coisa que influencia é o "costume". Se sempre ouvimos música em um "radinho de pilha", nos acostumamos com esse som e achamos que esse mesmo som é bom!!! Muitas igrejas têm som de "taquara rachada" e aceitam isso como um fato normal. Conheci uma igreja assim. Quando uma nova liderança assumiu a igreja, achou o sistema de som horrível. Mas ao consultar os irmãos, a maioria achou que estava tudo bom, que deveria funcionar do jeito que estava. Sem conseguir a aprovação para o investimento, o próprio líder da igreja comprou novos equipamentos do próprio bolso. Só então perceberam a diferença entre um equipamento de qualidade e o que estavam usando (e devolveram ao líder o valor pago).
Situações absurdas acontecem por desleixo com a sonorização. Certa vez, fui a uma igreja e estranhei o fato do microfone de lapela do pregador ser branco, pois nunca vi um microfone de lapela dessa cor, apenas preto. A voz estava péssima, mal dava para entender alguma coisa. Após o culto, fui lá à frente, curioso para olhar o microfone, marca e modelo. Na verdade, o microfone era um LeSon ML-70, mas como havia quebrado a cápsula, alguém adaptou no lugar a cápsula de um desses microfones de computador (desses com haste grande, de plástico), que deve custar no máximo R$ 5,00. E esse "microfone" estava sendo usado já a muito, sem ninguém reclamar. Que Deus tenha misericórdia do ouvido desse povo.
Tem a história da igreja que precisava de um microfone sem fio, e a liderança da igreja deu R$ 150,00 reais para se comprar um. Só que não existe um microfone sem fio decente por esse preço. Resultado: até foi possível comprar um, mas a captação do mesmo é tão ruim que só funciona se a pessoa colar a boca no globo e falar bem alto. Praticamente foi dinheiro jogado fora. Mas na mesma igreja o teclado era um Kurzweil de R$ 2.500,00, novinho em folha.
Falar de sonorização e estética é algo muito, muito complicado. Se queremos coisas bonitas em nossa casa, porque também não ter um visual bonito na igreja? Não há problema algum em pintar uma caixa acústica de branco, de forma a "disfarçá-la" melhor na parede. Também procurar uma solução "meio termo", que fique bom para a decoração e bom para a sonorização. Mas sacrificar a sonorização para preservar a beleza da igreja...
Vivi essa situação em dois casamentos seguidos em uma mesma igreja. Um na sexta-feira, outro no sábado. Na sexta, levei tudo de bom, incluindo duas caixas de som realmente boas para ficar no lugar das caixas existentes, muito ruins. O casamento foi perfeito, tudo certo, alto e claro, deu para todo mundo dentro e até do lado de fora ouvir tudo perfeito. Só que a igreja era relativamente estreita, e as caixas de som que levei ficaram muito perto da decoração colocada, pois não havia outro lugar. No outro dia, pela manhã, o responsável da igreja me telefonou, pediu para eu retirar as caixas. "Qual o problema? O som ficou ruim?" - perguntei. "Não, foi ótimo, mas as irmãs reclamaram que as caixas tiraram toda a beleza da decoração. Então acho melhor tirá-las de lá." - respondeu o pastor. Por mais que eu falasse que as caixas que havia levado foram as responsáveis pela boa qualidade de som, por mais que eu argumentasse, prevaleceu à idéia de ver é mais importante que ouvir.
Pior ainda é a escolha dos operadores de som. Em absoluto as igrejas querem que alguns dos próprios membros operem os equipamentos. Não há problemas nisso. O problema é que som exige tempo, chegar cedo (o operador está sempre entre os primeiros a chegar), sair tarde (está sempre entre os últimos a sair), como também responsabilidade, dedicação, zelo, organização, estudo, atenção. E os adultos (em geral, aqueles com essas qualidades) nunca têm tempo. São todos ocupados com trabalho, com família. Sobra para quem a operação do sistema? Jovens, adolescentes. Já vi um caso de um garoto de 11 anos cuidar do som de uma igreja com 400 pessoas. Ainda por cima ele se sentava no pior lugar possível, na parede ao lado do púlpito, sem retorno de som algum. O garoto confessou-me estar ali só por exigência do pai, um dos responsáveis pela igreja. Que se pudesse largava aquilo na mesma hora, dava muito problema e todo mundo reclamava. Se som já é complicado por si só, imaginem quando feito com má-vontade! Raríssimas são as igrejas que investem em formação de operadores de áudio, pagando cursos, valorizando-os.
As "cobranças", quando acontece algum problema no som, são implacáveis. Deu microfonia? Brigueiros no pessoal do som. Ninguém conseguiu entender nada? "Culpa do pessoal do som". Mas será que a microfonia não foi causada por alguém que inadvertidamente apontou o microfone para a caixa acústica? Será que ninguém consegue entender nada por causa de uma acústica local ruim? Será que a culpa é realmente do pessoal do som?
"Bater" no pessoal do som é fácil. As lideranças da igreja fazem isso, músicos reclamam porque está tudo muito baixo, cantores reclamam porque suas vozes não estão "aparecendo" no meio do coral, senhoras idosas reclamam que está tudo alto, que não dá para entender. Certa vez uma professora de crianças brigou comigo porque a criança foi orar na igreja, com microfone, e ninguém entendeu o final da sua oração. Respondi que o microfone só capta se existir algum som. Que a criança começa falando alto no início e vai diminuindo, diminuindo até a voz praticamente sumir, e isso antes de terminar a oração! Ela até que concordou, mas era eu que tinha que dar um jeito naquilo!
Claro que existem situações em que a culpa é realmente do operador, seja por desatenção, por desleixo ou descuido, mas outras vezes não é mesmo! Mas independente de quem for à culpa, a reclamação acaba é nos nossos ouvidos.
Trabalhar no som é duro, difícil mesmo. O reconhecimento é zero, o trabalho é enorme. Quantas vezes carregamos caixas de som pesadíssimas enquanto vários outros rapazes próximos só olham? Raríssimas vezes alguém nos ofereceu ajuda, na maioria das vezes precisamos foi conseguir alguém "a laço". Quantas vezes somos os últimos a sair da igreja, mesmo tendo sido dos primeiros a chegar. O trabalho é invisível, só "aparece" quando dá problema.
Por causa disso tudo, não raro as pessoas desistem. Se olharmos as dificuldades todas, desistimos. Eu também cheguei próximo disso. Cansei, cansei mesmo, cansei das reclamações, da falta de apoio, cansei de fazer o meu melhor possível, sem ninguém valorizar isso. Busquei ao Senhor e pedi a ele uma Palavra para o meu coração, que estava doído, machucado mesmo. E o texto que tive na Bíblia foi o seguinte: Jeremias 31:16: "Assim diz o Senhor: Reprime a tua voz de choro, e as lágrimas de teus olhos, porque há galardão para o teu trabalho, diz o Senhor." Entendi o recado.
Se houvesse um personagem bíblico para os operadores de som, eles seriam os "Valentes do Rei Davi". Davi teve centenas de milhares de soldados, mas apenas 37 tiveram seus nomes registrados na Bíblia. Eles tinham feito coisas grandiosas, fora do comum, para que o reinado de Davi prevalecesse. Arriscaram suas vidas, deram seu sangue pelo seu Rei. Trabalhar no som exige também muita dedicação, e muitas vezes vamos ter que fazer sacrifícios para que tudo saia correto. Não devemos esperar reconhecimento de ninguém, mas devemos ter certeza que o Rei dos Reis reconhece o nosso esforço.
Quando Davi foi passar o seu reinado para Salomão, ele chamou a Zadoque, o sacerdote, a Natã o profeta e a Benaia, o maior dos seus valentes. A missão deles: levar Salomão montado em cima da mula do rei por todo o Israel e apregoar um grito: Viva o Rei! Hoje nós no som fazemos o mesmo. Com a graça de Deus e junto com o Espírito Santo, através do nosso trabalho vamos apregoando Viva o Rei Jesus.
Nós que trabalhamos com sonorização em igrejas também temos que dar esse brado: Viva o Rei! VIVA O REI... quando for necessário carregar e montar o som sozinho... VIVA O REI, quando o pastor ligou o microfone sem fio na posição mute e todo mundo olha para o som... VIVA O REI... quando a gente tem que tirar dinheiro do próprio bolso para comprar pilhas e baterias, cabos, conectores... VIVA O REI... quando todo mundo já foi embora, ou esta lá lanchando... foi para a festa do casamento.... e nós estamos desmontando o som.... VIVA O REI JESUS!
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