sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Decibéis na Igreja

Por
João Roberto Oliveira de Castro

- Senhor João Roberto.

- Sou eu - responcli.

Isso interrompeu minha contemplação das árvores, da relva e das montanhas que via pela janela. Levantei-me da cadeira e fui em direção à técnica que me submeteria a um teste de audiometria. Afinal, eu já estava sentado havia trinta minutos aguardando minha vez. Era a Semana da Saúde em nossa empresa e alguns exames nos foram disponibilizados sem custo. Eu sentia certo incômodo no ouvido esquerdo havia algum tempo e por isso senti vontade de me submeter ao teste.

- O senhor frequenta boates, shows musicais, igrejas? - ela me perguntou.

- Ela disse “igrejas”? – pensei. 

Há alguns anos venho notando o nível sonoro altíssimo em nossas igrejas, algo que me causa dor de cabeça, dor nos ouvidos, fadiga auditiva, perda de concentração e de apreciação, quer de músicas, quer de pregações na Igreja, mas não sabia que essa agressão à saúde auditiva já é conhecida pelos profissionais de saúde a ponto de fazer parte do questionário que eles fazem às pessoas que se submetem ao teste.

Na maioria das igrejas, nossos cultos estão se tornando cada vez mais barulhentos. Isso sem falar nos eventos e congressos, durante os quais toneladas de som sacodem os ouvintes.

Nosso dia a dia já é barulhento: motos com ou sem escapamento, motores de ônibus, automóveis com caixas de som pesadíssimas, etc. E agora, as igrejas... estão confundindo decibéis com fé.

Hoje, a poluição sonora é tratada como contaminação atmosférica através da energia (mecânica ou acústica). Tem reflexos em todo o organismo e não apenas no aparelho auditivo. Ruídos intensos e permanentes podem causar vários distúrbios, alterando significativamente o humor e a capacidade de concentração nas ações humanas. Provocam interferências no metabolismo de todo o organismo, com riscos de distúrbios cardiovasculares, inclusive tornando a perda auditiva irreversível, quando induzida pelo ruído.

As Normas Regulamentadoras (NR) brasileiras indicam como prejudicial o ruído de 85 dBA (decibéis, medidos com ponderação A do aparelho medidor da pressão sonora) para uma exposição máxima de 8 horas de trabalho por dia. Sabe-se que sons acima dos 65 dB podem contribuir para aumentar os casos de insônia, estresse, comportamento agressivo e irritabilidade, entre outros. Níveis superiores a 75 dB podem gerar problemas de surdez e provocar hipertensão arterial.

Sabendo disso, uma vez que sou engenheiro eletrônico e trabalho no Inmetro, resolvi, após o teste de audiometria, medir o nível de pressão sonora em uma de nossas igrejas, no Rio de Janeiro. Resultado: níveis sonoros altíssimos (conheço várias outras que também são assim).

Fiz medições na nave principal e no salão jovem, utilizando um medidor de pressão sonora (decibelímetro) adequado para essa função, a uma distância de aproximadamente treze metros da caixa de som mais próxima e obtive os resultados abaixo:

  Músicas Pregação / Palestra
Nave Principal 106 dB 98 dB
Salão Jovem
(Esc. Sabatina)
100 dB 88 dB

Isso é muito grave! Se eu dissesse que fiquei surpreso e espantado, estaria mentindo, pois já esperava níveis assim. Comparem com os níveis que citei no penúltimo parágrafo. Note-se que treze metros de distancia da caixa de som mais próxima e uma das maiores distâncias a que podemos ficar de qualquer dessas caixas nessa igreja. Logo, a realidade é ainda pior para as pessoas que ficam mais próximas a essas caixas, pois elas enfrentam níveis ainda mais altos.

Vejam as tabelas a seguir, comparem e constatem o perigo a que estamos sendo submetidos.

Quadro 1 - Limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente, segundo a NR15

Nível de ruído dB (A) Máxima exposição diária permitida
85 8:00
86 7:00
87 6:00
88 5:00
89 4:30
90 4:00
91 3:30
92 3:00
93 2:45
94 2:15
95 2:00
96 1:45
98 1:15
100 1:00
102 0:45
104 0:35
105 0:30
106 0:25
108 0:20
110 0:15
112 0:10
114 0:08
115 0:07

Esses valores de tolerância em horas (na tabela acima) podem ser bem menores em muitas pessoas, aumentando mais ainda a gravidade da exposição.

Fonte sonora Intensidade sonora em decibéis (nível de pressão sonora)
Turbina de avião a jato 140
Arma de fogo 130-140
Serra elétrica 110
Cortador de grama 107
Shows de rock, com distância de 1 a 2 metros da caixa de som 105-120
Furadeira pneumática 100-105
Piano tocando forte 92-95
Walkman no volume 5 95
Pátio do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (medição fornecida pela Infraero) 80-85
(dosimetria – 8h)
Avenida movimentada 85
Tráfego pesado 80
Automóvel (passando a 20 metros) 70
Conversação a 1 metro 60
Sala silenciosa 50
Área residencial à noite 40

Quando vou à igreja, vou ao encontro de Deus e de meus irmãos. Sempre imagino um ambiente silencioso, aconchegante, que contribua para meu enlevo espiritual. Entretanto, em algumas ocasiões, eu me sinto obrigado a sair, ou a tampar os ouvidos (estou até pensando em levar protetores auriculares, discretos, é claro!).

Não é possível adorar a Deus num ambiente tumultuado, com cantores embalados por orquestras retumbantes e caixas de som tonitruantes a 106 dB, ou pregações com palavras atingindo 98 dB. 
Precisamos nos lembrar das palavras do Senhor: “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus”. Como se acalmar num ambiente assim?

O livro Conselhos Sobre Saúde, p. 28, diz que “a influência do Espírito de Deus é o melhor remédio para as doenças. O Céu é todo saúde.” Mas a Organização Mundial de Saúde afirma que, dependendo do tempo de exposição, o limite de decibéis que faz mal à saúde é 65 dB. O excesso de ruído já levou cerca de 10 milhões de cidadãos americanos à perda da audição ou parte dela.

Em relação aos frequentadores dos cultos, os efeitos psicológicos do excesso de ruído são preocupantes. Especialistas falam em perda de concentração (imprescindível num culto racional), irritação permanente, perda da inteligibilidade das palavras, dor de cabeça, fadiga, zumbido no ouvido e loucura. O excesso de ruído provoca interferências no metabolismo de todo o organismo, com risco de perda auditiva irreversível. A partir de 75 decibéis, não importa se o som é agradável ou não, se é produzido por música rock ou sacra, ele é, de qualquer modo, prejudicial ao corpo e em especial à audição. Devemos também nos lembrar dos vizinhos de nossas igrejas. Por que os imóveis próximos aos templos, em geral, têm baixa cotação no mercado imobiliário?

Li na Revista Adventista de novembro/2006, o artigo intitulado "Decibéis e Fé" (do qual adaptei algumas partes), mas vejo que, quase quatro anos depois, não houve progresso nessa área. Que levemos a sério esse assunto e mostremos que temos uma mensagem de saúde e uma postura que honra ao nosso Deus e nos diferencia daqueles que não têm entendimento. 


João Roberto Oliveira de Castro é engenheiro eletrônico, reside no Rio de Janeiro.

Fonte: Revista Adventista, Setembro de 2010, pp. 16-17

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Mesa de Som - Seção Master


Para encerrarmos nossa abordagem da mesa de som, falta comentar alguns knobs e botões que residem acima dos faders de subgrupos e Master. Farei uma abordagem de alguns destes mais comuns e certamente ficarão alguns não comentados, pois enquanto que os dispositivos dos canais são mais ou menos universalmente adotados e implementados conforme o nível de qualidade da mesa, quando se chega à seção Master, parece que os projetistas viajam buscando aquilo que possa dar um diferencial às suas mesas, talvez por não saberem como preencher o espaço ali contido e pedirem sugestões ao departamento de marketing ou talvez por quererem realmente colocar ali controles que tornarão suas mesas mais user friendly (de fácil manuseio) para os operadores. Enfim existe uma imensa variedade de nomes e botões que aparecerão ali e pretendo comentar apenas os mais comuns para não entediar os leitores. Aux Returns (e Sends)

Aux Returns

Quando comentamos os auxiliares mencionamos que os seus sinais, de modo análogo aos subgrupos, também passam por um controle master antes de serem enviados à saída. A este controle é dado o nome de Send pois é ele que enviará o sinal para o sistema de retorno conectado à saída dos auxiliares normalmente pré-faders. Quando, porém, se trata de um auxiliar pós fader, o sinal ali conectado geralmente será enviado a um módulo de efeitos e então será necessário devolvê-lo à mesa de algum modo. É para este propósito que existem os Aux. Returns (não confundir com retornos de palco!) pelos quais o sinal pode retornar à mesa após ser processado pelo módulo de efeitos.

Vale a pena saber que salvo no caso de mesas com módulos de efeito incorporados, estes Returns não possuem nenhuma relação entre as mandadas ou Sends. Embora em algumas mesas sejam vistos lado a lado (Send 1 e Return 1) a numeração é tão somente seqüencial e não há relação eletrônica entre eles. Assim sendo, posso dar duas dicas, uma para melhorar a qualidade do som e outra para salvar uma situação na qual muitos de nós já nos vimos quando nos faltam canais em nossa mesas para abranger todas as fontes de sinal que aparecem.

Primeiramente, você não é obrigado a ligar a saída do seu módulo de efeitos somente nos Aux ou Effect (as vezes abreviado EFX) Returns, na verdade, como já comentado quando tratamos dos auxiliares, se você tiver dois canais disponíveis e lembrar de manter os auxiliares que enviam o som para o módulo de efeitos FECHADOS nestes dois canais(!), é muito melhor devolver o sinal estéreo do módulo de efeitos à mesa pela entrada line de 2 canais para que você possa equalizá-lo e selecionar para qual, ou quais, sistemas de retorno enviá-lo caso os músicos assim desejarem.

Em segundo lugar, as entradas EFX Returns servem perfeitamente como canais adicionais pelos quais você pode conectar equipamentos em nível line que não precisem de equalização e cujo endereçamento não seja crítico - por exemplo um ou mais toca CDs. Já houve até um caso em que uma entrada dessas me salvou numa turnê em que eu viajava com todos os canais da mesa tomados pela minha banda e em Fortaleza apareceu um convidado especial que tocava teclado. Nesta ocasião fiquei extremamente grato pelo fato que os projetistas da mesa haviam também incorporado um controle "EFX to Monitor" pelo qual pude devolver o sinal de retorno ao camarada.

Headphones Volume, Solo Volume/Control Room/Monitor

Outro controle que pode vir, ou não, associado com os demais nomes acima é o de volume da saída de fones de ouvido. O propósito destes é proporcionar ao operador as condições de estar monitorando com maior flexibilidade o seu trabalho. Algumas mesas oferecem uma série de botões com os quais se pode selecionar a fonte de sinal a ser monitorada assim permitindo que o operador escute isoladamente o sinal que envia para os retornos ou efeitos via os auxiliares, para a master a partir dos subgrupos 1&2 ou 3&4, o sinal que recebe de um gravador, de módulos de efeitos etc. Esta capacidade de se poder monitorar o som enviado para os retornos é de valor imenso quando se está operando tanto o PA quanto os retornos de palco da mesma mesa!

Como muitas vezes existe uma grande diferença entre os sinais somados de um mix e o de um único canal solado, alguns fabricantes oferecem ainda um controle do volume de solo que eu recomendo seja deixado o mais alto possível para minimizar a diferença entre estes 2 níveis.

Como muitos fabricantes tentam agradar a ambos os universos de PA e estúdio com suas mesas, algumas terão uma cópia do sinal que é enviado para os fones presente nos dois conectores de uma saída rotulada Control Room. O propósito destes é ser conectados a um amplificador que envie seu sinal a caixas de monitoração para que o operador não tenha que trabalhar com fones. No contexto da maioria das igrejas de pequeno e médio porte em que o operador trabalha no meio da congregação, isto não é muito prático pois acaba causando distrações para os que se assentam à sua volta. Já no caso de shows com elevada pressão sonora e salões que comportam algumas milhares de pessoas isto se torna mais viável. Nestes casos, se a sua posição se encontra a cerca de 20 metros ou mais das caxiaa de PA, vale a pena inserir um delay para casar o tempo dos seus monitores com a chegada do som do PA para que o som não fique embolado por chegar primeiro o som dos seus monitores e breves milisegundos após atropelado pelo som do PA.

Cuidado com estes

Por fim, tome cuidado com algumas mesas que tem botões do tipo Master Mute ou 2 Track Replaces Main Mix como a antiga CR 1604 da Mackie que já deixou mais do que alguns operadores estressados quando após ser acidentalmente apertada custaram a descobrir que sua mesa não estava com algum defeito... Seu propósito é de simplificar a vida do operador permitindo que corte o som da saída da mesa sem alterar a posição dos faders ou ainda soltar o som de um CD nos instantes antes de começar o culto.

David B. Distler
A Fé vem pelo ouvir da Palavra

David B. Distler - Com mais de 20 anos de experiência, David, é consultor associado à Audio Engineering Society e à National Systems Contractors Association. David projeta sistemas de som, sonoriza eventos e tem ministrado cursos para centenas de operadores de som e músicos.
Contatos:
e-mail: dd@proclaim.com.br / website: www.proclaim.com.br 
Fonte: http://www.proclaim.com.br/Artigo20.html